segunda-feira, 26 de março de 2012

Devia ter 5 anos quando eu precisei deixar a chupeta.
Já havia tentado outra vez, e envergonhada com a frustrada tentativa tinha a sensação de que eu não conseguiria.
Minha mãe sugeriu que eu trocasse por uma surpresa. Acho que era reveillon ou natal, e nem estávamos em nossa casa. Era um lugar estranho.
Chegou a hora, lembro ainda da sensação de tirar a chupeta da boca pela última vez e entrega-la pra que um ser encantado viesse buscar. Uma mão recebeu a chupeta, devia ser de minha mãe. Só lembro da mão carinhosamente recebendo-a e sumindo entre seus dedos.
Havia uma boa espectativa pela surpresa, oque me ajudou no momento da entrega.
Recebi o embrulho, eram 6 canetinhas!
Eu AMEI a surpresa.
Em seguida comecei a desenhar. Era a primeira vez que usava canetinhas. Acho que dormi encima da folha, desenhando.
E essa madrugada me veio a lembrança dos desenhos que eu fazia. Eu desenhava montanhas, ilhas, árvores. Mas as montanhas eram mais constantes.
E hoje, passados 32 anos, me emocionei profundamente ao reconhecer a coragem da minha criança, que confiou em desapegar do vício. Entreguei e segui em frente colorinho minha vida. Não me tornei artista plástica, mas fotógrafa. Minha maior satisfação hoje é fotografar montanhas, e nessa madrugada reconheci os desenhos nas fotos.
Como eu fui valente, forte, linda!
Nem podia imaginar que aquela atitude reverberaria por toda minha história.
Tenho gratidão pela atuação de minha mãe neste momento importante, e pela inspirada escolha do presente.
Sinto neste momento profunda gratidão por mim mesma. Por essa minha criança vir neste momento me lembrar que vale a pena ter Fé.

Desapegar é mais doloroso se ficar pensando no objeto de apêgo. Entregue e confie, tem uma surpresa (da vida) te esperando.

Andréa cAMARgo.