Ao desligar o telefone, penso:
Não vou a cemitérios há anos. Além do mais, eu só fotografo gente feliz, por que me chega agora a incumbência de fotografar as pessoas nesse momento tão... tão dolorido.
- Milhões de fotógrafos no mundo.
- Por que eu?
E sempre que essa pergunta me vem, em seguida me vem uma certeza: Há algo nesse lugar para eu ver. Algo me diz que estou indo lá para ver alguma coisa Além da Imagem.
O cliente está sendo um facilitador para que eu chegue nesse lugar e veja o que eu tenho que ver.
E de fato, assim foi.
Um lindo dia de sol, de céu azul radiante. Muitas flores acariciavam as mãos amorosas que com tanto esmero as levavam. O percurso do portão ao local onde estava escrito o nome de seus parentes, pareciam pontes de ligação do visível ao invisível. As flores transmutavam as emoções guardadas, e a dor sendo aliviada através das lágrimas de saudade.
Quanto mistério há entre o Céu e a Terra. E o silêncio, voz da Esperança, em especial neste lugar, impera.
Só o Amor prevalece.
Foi o vento, o mesmo que fazia as árvores cantar, que me soprou: “vire para trás”
Virei, e perdi o fôlego.
Uma imagem sagrada.
Foi o tempo de um só click.
Duas mulheres, em posição de Anjos confortavam uma outra mulher.
Observando um pouco mais, descobri que haviam voluntários que ofereciam conforto para as pessoas que estavam muito emocionadas. Eles chegavam perto, ofereciam orações e depois se colocavam para ouvir a pessoa, dando espaço para ela manifestar seus sentimentos. Todos que vi, agradeceram com um longo abraço e um sorriso não antes visto em seu rosto.
Quando vi aquela cena, explosão de amor incondicional. Chorei.
Quanta gente linda neste mundo.
Muito obrigada, Deus, pela oportunidade de ter presenciado isso.
Eu sou uma fotógrafa de muita sorte.
Fui envolvida por um calor maior que o calor do sol.
Um dia realmente especial.
Ah! As fotos da cerimônia ficaram boas. O cliente gostou.
Andréa Camargo
Minhas saudades ao meu pai querido que está no céu, e também minhas duas sobrinhas que cumpriram muito rápido suas missões aqui na Terra: Micaela e Elis.
Saudades d. Cidinha, meus avós, padrinhos e amigos.
Até sempre.